Motociclistas mulheres que você deveria conhecer: Bessie Stringfield

 Motociclistas mulheres que você deveria conhecer: Bessie Stringfield

Bessie enfrentou, no início do século passado, o desafio de ser uma motociclista mulher e negra nos Estados Unidos

Dando continuidade à série de matérias que traz motociclistas com histórias de destaque, hoje o holofote vai para Bessie Stringfield – uma apaixonada por motos que fez inúmeras viagens, performances e entrou para o Hall da Fama do Motociclismo. 

Um detalhe: além de mulher, Stringfield era negra. Mesmo na década de 1930, com todos os preconceitos impostos pela sociedade, nada a impediu de seguir sua grande paixão, que era pilotar.

Como se não fosse o bastante, a trajetória da figura é turbulenta desde o início. Tornou-se órfã quando ainda criança, e, a partir disso, existem distintas narrativas sobre sua vida. As maiores distinções são sobre o começo de sua vida, se nasceu em solo norte-americano mesmo ou na África, e também a origem de seus pais. 

De qualquer modo, a versão contada pela própria Bessie aponta que foi adotada e criada por uma irlandesa. Assim, aos 16 anos ganhou sua primeira motocicleta, uma Indian Scout 101 1928, máquina com a qual aprendeu, de maneira autodidata, a pilotar. A partir de então, nunca se distanciou do amor pelas duas rodas.

Quando tinha apenas 19 anos, a garota fez sua primeira viagem. Escolheu o destino jogando uma moeda em cima do mapa estadunidense, e partiu. Vale ressaltar que isso ocorreu em 1931, uma época pré-rodovias interestaduais e pré-direitos civis, tornando as conquistas de Bessie ainda mais surpreendentes. 

Depois dessa viagem, vieram muitas outras: ela conheceu 48 dos 50 estados americanos, e cruzou o país 8 vezes no total, sendo a primeira mulher negra a pilotar sozinha pelo território. Além disso, passou pela Europa, Brasil e Haiti. 

Para arcar com as despesas das viagens, a motociclista apresentava acrobacias em cima de uma moto em parques de diversão, ou participava de competições em troca de dinheiro. Basicamente, arranjava qualquer trocado que pudesse.

Outra dificuldade era achar um lugar para dormir. Não simplesmente encontrar uma acomodação, mas sim uma que a aceitasse. Por ser negra, Bessie não era bem-vinda na maioria das pousadas. Logo, a solução, muitas vezes, era dormir apoiada em sua moto, em algum posto de gasolina. O guidão virava travesseiro e seus pés ficavam apoiados no para-lama traseiro.

Além do estilo de vida livre e ousado do motociclismo, Bessie também aplicou sua paixão como forma de ajudar os EUA durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Nesse período, ela trabalhou como mensageira do exército norte-americano, tendo passado por intensos treinamentos. 

Para exercer a tarefa, pilotava uma Harley-Davidson azul, que chamava carinhosamente de “61”. Isso tudo em meio a um ambiente dominado por homens, machista, e repleto de preconceito racial. 

Quando a guerra acabou, Stringfield mudou-se para a Flórida, onde adquiriu um apartamento nos subúrbios. Foi nessa região que ela se estabeleceu, passou a trabalhar como enfermeira e, ainda, fundou o Iron Horse Motorcycle Club.

Disfarçada como homem, Bessie chegou a ganhar competições de Flat Track (uma modalidade do motociclismo com pistas ovais), mas, quando descobriam que era mulher, não lhe entregavam o troféu. Ela acabou ganhando o apelido “Negro Motorcycle Queen” e, depois, “Motorcycle Queen of Miami”. 

O sobrenome Stringfield, pelo qual ficou conhecida, veio de seu terceiro de seis casamentos, todos terminados em divórcio. Bessie não teve filhos e faleceu em 1993, com pouco mais de 80 anos. 

Ao longo de sua agitada vida, teve 27 motos da Harley-Davidson, além de sua Indian. Ganhou uma homenagem pelo Museu da Harley em 1990. Depois de seu falecimento, entrou para o Hall da Fama das motocicletas (AMA Motorcycle Hall of Fame) em 2002, e, em 2000, a AMA criou o “Bessie Stringfield Memorial Award” para reconhecer suas realizações excepcionais como motociclista.

Sem dúvidas, a icônica Bessie Stringfield rompeu barreiras, tendo em vista o que era imposto para uma mulher negra no início do século XX. Obviamente, mesmo se gênero e etnia forem desconsiderados, seus feitos continuam sendo muito impressionantes.

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