Viajar de moto pelo mundo: Uma experiência para além do inesquecível

 Viajar de moto pelo mundo: Uma experiência para além do inesquecível

Kimie e Rodrigo compartilham suas melhores experiências e os desafios de percorrer o mundo sobre duas rodas

Largar tudo e sair pelo mundo pilotando uma moto sozinho não é para qualquer um. Escolher se jogar nessa aventura significa, também, aceitar todos os desafios e obstáculos que virão com ela. Mesmo enfrentando percalços no caminho, tanto Kimie, quanto Rodrigo, afirmam que nada supera os aprendizados e experiências incríveis da viagem.

No caso de, Kimie Koike, assistente de direção de cinema, a ideia de viajar pelo continente Africano surgiu de forma repentina, através de um convite feito por uma amiga argentina que já tinha o hábito de percorrer o mundo sobre duas rodas. Kimie, por sua vez, não pensou duas vezes e aceitou, mesmo sem saber andar de moto.

Aos 23 anos, decidida a embarcar nessa aventura, ela logo se matriculou em uma autoescola para ter aulas de direção. Quando contou para o seu professor os planos por trás do aprendizado, ele, assim como outras pessoas, achou que era loucura. Para ela, porém, a ideia soava natural a ponto de nem se questionar sobre sua decisão.

Ela conta que as dificuldades começaram ainda na autoescola: “Cada passinho que você dá, você percebe que é uma minoria naquele ambiente. Quando eu ia fazer as aulas práticas, meus pés não alcançavam o chão, eu não conseguia ligar a moto sozinha porque meus pés não chegavam no pedal. Não tinha estabilidade”.

Em 2018, inexperiente com motos,  Kimie viajou até a Espanha, comprou uma Honda NX250, apelidada de Domi, desceu até o Marrocos e percorreu a costa oeste do continente Africano. A ideia inicial era viajar até a África do Sul. No entanto, a companheira de viagem de Kimie sofreu um acidente grave e a viagem precisou ser interrompida na Libéria. 

Por mais que já tivesse feito várias viagens inesquecíveis pelo mundo, porém, mais curtas, Kimie não imaginava que alguns meses andando de moto pela África pudessem ser tão transformadores e desafiadores. “A África é um continente duro para você fazer de moto, tanto pela infraestrutura das estradas, quanto pela realidade do continente”. 

Marrocos, Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Guiné Bissau, Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria. Essa foi a rota percorrida pelas motociclistas por seis meses. De acordo com ela, Marrocos foi a cidade de melhor infraestrutura, talvez pela proximidade com o continente europeu. Mas a sua experiência em cidades menores com estradas sem asfalto e com pouca assistência mecânica parecia uma aventura em off-road. “A gente pilotava em off-road com a nossa trail NX250”.

Kimie relata que não teve muitos problemas com a sua moto, além da corrente ter estourado e um problema na bateria. Nessa parte, ela conta que era complicado comprar as peças e encontrar um lugar que realizasse o conserto, principalmente, pela dificuldade na comunicação. 

A moto de sua amiga, no entanto, sofreu diversas vezes com pneu furou, corrente estourou e por aí vai. “Quando isso acontecia, era tudo resolvido na gambiarra porque algumas pessoas que ajudavam, nem sabiam qual era o problema ou não tinham infraestrutura e a comunicação entre nós e os habitantes era um pouco complicada”. 

Muito mente aberta e com pouca bagagem na garupa, Kimie conta que, quanto mais viagens você fizer, mais vai perceber que não precisa de muito. “Levei quase nada de roupa nem remédios, shampoo, sabonete etc. Eram mais itens de acampamento e para moto, como filtro de óleo, peças extras, ferramentas, gasolina etc”. 

Falando da moto, a companheira que vai estar com você em todos os momentos da viagem, Kimie recomenda que os viajantes tenham uma noção básica de mecânica e escolham uma moto mais fácil de mexer. Para casos de conserto, é necessário saber lidar com a imprevisibilidade da viagem e se planeje bem.

Falando em planejamento, o publicitário Rodrigo Schmiegelow, ao contrário de Kimi, já planejava viajar pelo mundo aos 16 anos. “A minha vontade era, na verdade, de pegar minha bicicleta e viajar pelo Brasil assim. Mas aí veio a faculdade, depois fui crescendo no emprego e fui ficando sem tempo”. 

Em meados de 2015, tomado novamente pela vontade de viajar, Rodrigo decidiu tirar a habilitação para pilotar motocicletas. Assim,  devido a algumas insatisfações no trabalho, em novembro de 2019, o publicitário subiu em sua moto para se aventurar nos países da América do Sul.

“Escolhi a moto por ter gostado de andar de moto mas, principalmente porque, em comparação com o carro, é mais barata e flexível. Então pensei mais no custo benefício”.

Rodrigo conta que, além de sair dos locais onde trabalhava, precisou fazer um pequeno planejamento, principalmente devido aos custos da viagem. O objetivo era não só viver a experiência, mas também criar conteúdo para o seu blog O Mundo em Lanches, voltado principalmente para gastronomia. Inclusive, seu enorme interesse pela gastronomia foi um dos fatores que o fizeram colocar o pé na estrada. 

Em cinco meses, Rodrigo visitou  países como Argentina, Uruguai e Chile, mas o seu objetivo era ir de Ushuaia até o Alasca. No entanto, em meados de Março, já no Chile, a pandemia do coronavírus começou a assolar o mundo. Por esse motivo, sua viagem precisou ser interrompida.

De acordo com o publicitário, todas as pessoas são bem amistosas e, dos países que visitou, o Chile foi o mais surpreendente. “Gastronomia, pessoas muito receptivas e acolhedoras e as paisagens me surpreenderam demais”. 

Como na viagem de Kimie, Rodrigo também enfrentou alguns problemas no meio do caminho. Em certo ponto da viagem, a corrente de sua moto estourou no meio de uma tempestade, mas pôde contar com um mecânico argentino que o ajudou, já que ele não entendia nada de mecânica. 

Embora tenham tido experiências semelhantes em suas viagens, Kimie e Rodrigo possuem uma vontade em comum: Ao final da pandemia, ambos pretendem fazer uma viagem no mesmo estilo, mas no Brasil. 

Antes de cair na estrada, os dois ressaltam a importância de seguir algumas dicas antes de se aventurar. Conversar com pessoas que já fizeram viagens como a sua e o uso de gps que funcionam offline são fundamentais para as viagens com pouca infraestrutura e muita aventura.  Além disso, é fundamental ter um preparo psicológico e uma organização prévia para tantos meses longe de casa.

Durante a viagem, Kimie recomenda que as pessoas não se prendam nas experiências dos outros que já fizeram isso ou que assumem que não será bom, pois cada experiência é particular. “Cada dia era um desafio e uma descoberta diária sobre os lugares, a vida e as pessoas”.

Rodrigo, por sua vez, enfatiza a importância de viver a experiência do seu jeito, pois cada um tem o seu perfil de viagem. Além disso, reforça que é preciso compreender e respeitar outras culturas. 

Por fim, Kimie recomenda que, aqueles que estiverem dispostos a encarar essa aventura, mergulhem de cabeça. “Vá com humildade e deixe a experiência te dizer o que você vai viver, porque quanto mais você mergulhar de cabeça, maior é a chance de você ficar deslumbrado”.

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