Mobilete: o sonho de consumo de quase todos os adolescentes
Todo aficionado por moto teve sua paixão despertada em um momento da vida (geralmente na adolescência), em que não tinha dinheiro para comprar uma moto, nem idade para dirigi-la. Naquela época e ainda hoje muitos de nós nos contentamos com uma bicicleta, mas uma opção nos anos 70, 80 e começo dos 90 era a mobilete e eram muitos os que sonhavam em ter uma, fora isso restava apenas dar uma volta na garupa ou no tanque da moto do seu pai ou do seu tio e, quando muito, se o familiar estivesse de bom humor, dar uma voltinha indo e vindo na rua.
Quem não queria aquela mobilete com motor 2 tempos, sistema centrífugo automático de embreagem feito por correias a polia cônica, que não é similar ao CVT, com sistema de partida no pedal, movida a gasolina misturada com 3% de óleo 2 tempos para lubrificação e com um tanque de 3 L de capacidade. A economia de gasolina era gigante e a diversão garantida.
Talvez a mais desejada na época tenha sido a Caloi, que tinha licença da antiga Motobécane para fabricar as cinquentinhas no Brasil. A mais cobiçada pode ter sido a Mobylette Caloi 50 por volta de 1975, a AV10 em 1981 e a XR 50 por volta de 1986, mas nem por isso as concorrentes ficavam atrás. A eterna rival da Caloi Monark, fabricava a tão sonhada mobilete Monark Monareta MSL 50, popularmente conhecida como Monareta, também por volta de 1975. A AV-X, no começo dos anos 80, e a Manoreta S50 por volta de 1986. Havia outras fabricantes de expressão na época, como a Motovi e a Garelli, mas esta acabou sendo comprada pela Caloi e aquela acabou sendo esquecida quando comparada com as outras marcas.
A Mobylette Caloi 50 tinha um motor AV7 e foi fabricada até 1979. No ano seguinte, a Mobylette da Caloi passou por algumas mudanças, adotou um motor AV10, que era uma evolução do motor anterior e ganhou também um novo farol redondo, e uma lanterna traseira. Em 1981, a Mobylette muda totalmente seu quadro e passa a ser chamada Mobylette II AV10, a aparência adotada era muito parecida com a da sua principal concorrente Monareta AV-X, da Monark.
Em 1986, a Mobylette passa por outra mudança, a Caloi lança a XR 50, com carenagem de plástico, para-lamas de plástico e um motor ligeiramente mais potente, ela tinha agora um apelo mais jovem. De 1986 até 1998, as mudanças feitas nas mobiletes da Caloi eram puramente estéticas, a cada atualização via-se novos adesivos ou grafismos, sem mudança significativa na aparência e mudança nenhuma no motor.
A Monark, que acompanhava a Caloi de perto em seus lançamentos e que chegou a tomar a frente na corrida, no primeiro embate entre as duas a Monark fabricou a Monareta MSL 50, que vinha com um motor alemão Sachs de 2 tempos e 49,9cc com cilindro na horizontal, o mesmo que equipava os ciclomotores da Motovi, que faziam bastante sucesso na época. Com a superioridade da Monark a Caloi foi obrigada a melhorar o seu produto e lançou a sua AV10, que foi acompanhada da AV-X da Monark com aparência e motor praticamente idêntico. Talvez a única diferença visível entre estes dois ciclomotores fosse que o tanque da Monareta era embaixo do banco e o da Mobylette era no tubo do quadro, abaixo do guidão.
A Monark liderou a corrida das mobiletes uma única vez com a MSL 50 e seu motor alemão, depois disso foi sempre a Caloi que esteve na frente. A mobilete S50 que a Monark fabricou para concorrer com a XR 50 da Caloi tinha mais diferenças estéticas do que técnicas que sua predecessora. Quando se junta isso com a volta do imposto de importação, o que dificultou e encareceu a aquisição de peças, o que temos é a queda de vendas dos ciclomotores. Depois disso houve ainda outros motivos que desencorajaram as pessoas a comprarem uma mobilete.
Aqueles que viveram essa época se lembram bem da felicidade que era poder sentir um motor embaixo de si ainda menor de idade. Diferente de hoje que para dirigir um ciclomotor é necessário ter uma ACC (Autorização para Conduzir Ciclomotor) e fazer CFC para tirar esse documento semelhante a uma CNH. Nos anos 70 e 80 era comum encontrar meninos e meninas de 12 ou 13 anos conduzindo uma cinquentinha. Não era necessário emplacar e não havia regulamentação específica para esse tipo de veículo, situação que mudou a partir de novembro de 2016.
Esse veículo era bem comum quando marcas como Caloi, Monark, Garelli e Motovi faziam seus ciclomotores. Hoje, no entanto, esse meio de transporte é artigo de colecionador. Aqueles que têm uma mobilete icônica da sua época que lhe é querida, seja da Caloi ou da Monark – as mais expressivas há uns bons 50 anos atrás- não abrem mão delas. E quando os poucos que estão dispostos a vendê-las as anunciam em algum lugar o que se vê é inúmeras propostas e longas negociações. Para aqueles que desejam ter um ciclomotor atualmente e que não fazem questão que o objeto de desejo seja o mesmo de quando adolescente é possível encontrar modelos de marcas como Shineray e Bikelete, que tem seu preço variando entre R$ 3.000 e R$6.500.
Os modelos da Bikelete lembram as antigas mobiletes da Caloi e Monark enquanto os modelos da Shineray lembram motos, veja:
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