De corrida em corrida, o caminho até melhores condições profissionais
Em bate-papo exclusivo com o MundoMundo S/A, o motofretista Oscar Brizolla fala sobre sua paixão pelas duas rodas e sua busca por ascensão na carreira
Neste 27 de julho, dia do motociclista, você vai conferir conteúdos especiais para celebrar o universo das duas rodas. Obviamente, o Moto Mundo S/A não iria deixar essa data passar batida. E muito menos poderíamos deixar de incluir aquele que faz da motocicleta o seu ganha-pão.
Oscar Leonardo Brizolla, de 35 anos, trabalha há 15 deles como motofretista em Santos (SP), onde também faz parte da direção do sindicato da categoria, o Sindimoto.
“É uma profissão que, apesar dos obstáculos, é apaixonante. Tem a questão da liberdade, do vento na cara; então, a pessoa que ama moto se identifica com o trabalho”, afirma.
Reconhecimento tardio
A profissão de motofretista foi regulamentada apenas em 2009, por meio da Lei 12009, que estabelece algumas prerrogativas, como a necessidade de aprovação em curso especializado, ter ao menos 21 anos de idade e no mínimo dois anos de habilitação na categoria “A”, além do uso de equipamentos de proteção e sinalização.
Hoje, até pelo fato de ser recente, ainda engatinha em diversos aspectos.
Cachorro consciente
Em meio à constante associação entre liberdade e alta velocidade, Oscar destaca a maturidade adquirida com o tempo.
“A questão da segurança é fundamental. Quando você atinge uns anos de profissão entende que ela não é só correr. Então, a gente começa a redobrar os cuidados no trânsito e a ser consciente em cima da moto.”
Muito provavelmente você já leu, ouviu, ou até mesmo reproduziu a frase ‘motoboy é cachorro louco’. A velocidade com que trafegam, aparentemente sem preocupação alguma com a segurança (própria e do trânsito em geral) – somente em realizar a entrega no prazo – criou essa pecha em relação à categoria no senso comum.
Vale destacar que, até 2011, não havia um controle eficaz sobre essa prática nem mesmo no Código Penal. Diante dessa brecha, várias empresas premiavam motofretistas que cumpriam metas, por exemplo, pelo número de entregas. Em outras palavras, tratava-se de um estímulo para voar baixo nas ruas.
“Então, o cara carrega aquilo para si, começa a costurar o trânsito, buzinar, e achar que todo carro precisa abrir caminho pra ele. E não é bem por aí. A gente precisa desmistificar isso, porque é uma profissão comum como qualquer outra, e não podemos ficar de aventureiro pra sempre, até mesmo para diminuir o impacto dos acidentes de trânsito”, enfatiza Oscar.
Com a criação da Lei 12436, o empregador ou tomador de serviço passou a estar sujeito à multa de R$ 300 a 3 mil reais em caso de descumprimento das normas. No entanto, mesmo passados 10 anos, a conduta não foi totalmente abolida. Segundo Oscar, empresas e aplicativos, de modo geral, continuam longe de se adequar a elas.
“A gente tem muito o que fazer em trabalho de conscientização, diálogo, conversa, para entender que correr não é o melhor caminho, que é preciso respeitar as leis de trânsito. Mas precisamos de direitos e garantias para fazer o trabalho sem precisar correr.”
Via de mão dupla
O próprio termo “cachorro louco” é fruto de uma espécie de rivalidade fabricada entre carros e motos, que diariamente disputam palmo a palmo das vias urbanas brasileiras. O problema é que criações distorcidas geram interpretações igualmente confusas.
Oscar rechaça essa ideia, tanto pela autocrítica sobre a própria categoria, como ao observar falhas também sobre quatro rodas. De acordo com ele, nessas situações, prevalece a proteção.
“Muitas pessoas ficam distraídas, dirigindo seus carros com celular na mão, algo que a lei não permite. O buzinar, além dos escapamentos com ruídos – também proibidos -, são práticas até para justificar a própria segurança. Mas, para não generalizar e não pontuar o erro só de um lado, tem a questão do ponto cego nos carros, que às vezes impede que os motoristas vejam quem está passando”, argumenta.
É possível chegar a um consenso? A resposta parece distante. Enquanto isso, Oscar reforça sua atuação no sindicato, onde busca ao mesmo tempo assegurar direitos à categoria e conscientizá-la sobre os riscos envolvendo atitudes irresponsáveis.
“Acredito que é uma profissão que precisa buscar o amadurecimento nessa parte, inclusive, por ainda haver essa motivação de o motofretista ter que correr para fazer as entregar num prazo, já que a lei praticamente não é cumprida. Então, temos que dar esse exemplo aqui no sindicato. Ele está aí para isso: garantir direitos.”
Todo mundo sai ganhando
Para vislumbrar uma mudança no cenário, segundo Oscar, é necessário que todos façam sua parte e entendam que toda a cadeia de produção e distribuição está interligada.
“É fazer as empresas e os trabalhadores cumprirem a lei. E até interessante a área da indústria e do comércio entrarem nessa luta com a gente, pela segurança geral. Porque isso traz outros impactos; por exemplo, um acidente pode gerar superlotação no SUS. Uma coisa puxa a outra. No fundo, é do interesse de todos”, finaliza.
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