A primeira viagem de moto registrada no Brasil
Nos anos 1920, dois jovens decidiram realizar um trajeto longo em suas motocicletas. Foi esse um feito inédito no país
Hoje, viajar em cima de um veículo de duas rodas é extremamente comum. Mas você já parou para pensar quem foram os primeiros que decidiram colocar essa ideia em prática? Em solos brasileiros, o registro mais antigo que se tem de uma aventura assim foi uma nota no jornal “Diário dos Campos”, em 23 de agosto de 1923. Lê-se: “Hoje, às seis horas da manhã, partiram desta cidade, em motocicleta, com destino a Antonina, os jovens Ricardo Wagner e Afonso Lange”.
Usando uma Harley-Davidson 16-F e uma Indian Scout, os dois jovens, naturais do Paraná, iniciaram seu trajeto de mais de 200 km, saindo da sua cidade natal (Ponta Grossa), passando por Curitiba e finalizando em Antonina. Na volta, eles fariam esse mesmo trecho, porém no sentido contrário.
Para os padrões atuais, parece algo tranquilo. Entretanto, na década de 20, esse plano era um verdadeiro desafio. A falta de estradas asfaltadas, estrutura ferroviária e a baixa velocidade das motos complicavam o cenário. O resultado foi uma viagem de quatro dias: dois de ida e dois de volta.
Uma curiosidade é que, na época, era frequente que “carroções” – carros puxados a boi, para o transporte de pessoas ou carga – estivessem nas ruas. Carregando até 1,5 toneladas e fazendo uso de até dez animais, esse meio contribuía para que o solo fosse ainda mais irregular, o que resultava em mais tombos.
Mesmo com os obstáculos, Wagner e Lange saíram firmes no dia 23 de agosto, rumo primeiro à Curitiba. Para evitar acidentes, os amigos combinaram de pilotar a uma certa distância um do outro, para que a poeira levantada por um não atrapalhasse o colega. Após cruzar o vilarejo de Palmeira, eles chegaram a um trecho trabalhoso: o chamado “rio de pedras” – uma via feita de pedras, que limitava ainda mais o ritmo do percurso.
A queda na água e a chegada à Curitiba
Incidentes sempre podem acontecer – e não ficaram de fora da primeira viagem de moto registrada no Brasil. Ao chegar ao rio Papagaios, Ricardo Wagner caiu na água, com a moto e o motor ligado. Vendo a cena, Afonso Lange pulou para ajudar o companheiro e, também, tirar o veículo de lá. Foi o maior acidente que os dois enfrentaram na aventura, mas não foi um motivo de desânimo – eles consertaram a moto e continuaram em direção à Curitiba.
Depois de passar a noite em um hotel, os dois encararam a estrada às seis horas da manhã seguinte. O caminho era a Estrada da Graciosa, famoso trecho tropeiro que ligava a capital ao litoral paranaense. Afonso Lange desceu a serra tranquilo, e parou para esperar o amigo. Wagner não chegava e, então, o parceiro resolveu voltar um pouco e checar o motivo. A explicação era simples: Ricardo estava sem gasolina. Muito bem preparado, Afonso tinha consigo um galão de combustível e, novamente, salvou a viagem.
O destino final, Antonina, e mais desafios
A coragem e determinação dos dois rapazes os levou com sucesso à Antonina, local onde tiveram um delicioso almoço. A estadia na cidade foi breve, já que decidiram voltar para Curitiba naquele mesmo dia. Chegaram na capital à noite, e retornaram para a cidade natal, Ponta Grossa, no dia seguinte.
Mas, se engana quem pensa que o retorno foi totalmente como planejado. Na manhã em que acordaram, com o caminho de volta em mente, uma tempestade muito forte caía. A solução, a priori, foi voltar de trem, colocando as motos em carroças até a ferroviária. A sorte realmente não estava a favor de Wagner e Lange: a locomotiva que os levava descarrilou. Felizmente, a esposa do presidente do estado estava no mesmo trem, então o tráfego foi acertado rapidamente.
Chegando na estação de Ponta Grossa, os dois motociclistas retornaram para casa em cima de seus veículos, uma Harley e uma Indian, colocando um fim à primeira grande viagem de motos registrada em território nacional. E aí, gostou da história?
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