Os desafios e fascínios da restauração de motos antigas
Ramiro Murad Saad Neto, sócio da oficina AM Bikes, explica que a maior dificuldade do processo de restauração é encontrar peças originais
O hábito de colecionar motos é um de seus preferidos, mas restaurá-las não era algo fácil de se conseguir. Ramiro e seu atual sócio são fascinados pelas clássicas da BMW e Harley-Davidson, mas não conseguiam encontrar oficinas acessíveis e que não demorassem tanto para entregar a moto para o cliente. Foi pensando nisso que criaram a oficina AM Bikes, em São Paulo.
O cirurgião dentista, Ramiro Murad Saad Neto (35), e seu sócio decidiram então unir a paixão por motos antigas e o desejo de restaurá-las com as adversidades encontradas para realizar esse processo e abriram uma oficina. A AM Bikes Art Garage foi inaugurada em Outubro do ano passado e é especialista em restauração e customização de motos (clássicas ou convencionais).
Talvez por ser um processo mais conhecido, muito se sabe sobre a restauração de carros clássicos. Mas afinal, como é feita a restauração de motos? Para esclarecer algumas dúvidas sobre o como é realizado o processo, entrevistamos Ramiro, o cirurgião dentista que vira mecânico nas horas vagas na oficina.
Orientado por manuais originais de fábrica das motos, Ramiro conta que o processo de restauração de motos é mais simples do que se imagina e, os desafios, relacionam-se às peças que algumas vezes são raras de encontrar. “Restaurar não é difícil, difícil é encontrar peças originais. A parte elétrica, placa de partida, acabamos adaptando de outras motos porque não achamos em nem fora do país, o que faz com que a moto perca um pouco de sua originalidade”.
Ainda de acordo com Ramiro, a dificuldade na restauração de motos na verdade se encontra na compra da motocicleta. Para o cirurgião, é difícil encontrar e comprar uma moto antiga que esteja com as peças originais íntegras ou, pelo menos, em boas condições. Além disso, ele relata que a parte mecânica não exige uma busca intensa por peças, já que atualmente, existem empresas que fabricam essas peças, como pistão e carcaças.
“É difícil encontrar peças de acabamento e da parte elétrica, botões do punho […]. Essas peças não conseguimos nem pegar com as concessionárias, porque elas são obrigadas a descartar as peças de modelos com mais de 10 anos. Então essa parte da restauração é complicada”.
No entanto, a parte estética, de acordo com Ramiro, é a parte mais simples de todo o processo. “A pintura é a parte mais fácil, restaurar as peças da parte interna, como cromar peças e refazer bancos. A montagem da moto também é simples”.
O tempo de restauração pode variar muito de acordo com a preferência do cliente e a marca da moto. Ramiro explica que se for só customização leva em torno de 30 a 40 dias, mas se for restauração completa, o tempo de espera é maior. “Mudar o chassi, o pneu, pode levar de 4 a 6 meses. Mas depende muito do que a pessoa quer. Se estamos falando de uma moto ‘nova’, é coisa rápida. Mas uma BMW K1, toda carenada, exige uma reparação completa, então demora mais”.
Ramiro afirma ainda que sua oficina recebe motos, principalmente, das marcas BMW e Harley-Davidson e, por isso, os preços das restaurações completas dos modelos dessas marcas, podem ser bem elevados. “Dependendo da moto, se for BMW K1, vai custar em média uns 30, 40 mil reais. Agora, se for uma Honda, por exemplo, vai ser uns 20 mil.”
No entanto, se o cliente expõe o desejo de realizar uma customização personalizada, com referências próprias, nas palavras do cirurgião, o céu é o limite. “Dependendo do que for feito, pode chegar a 80 mil, ou mais. Vai de acordo com o que o cliente quer”.
Da mesma forma que acontece com os carros, uma moto muito bem restaurada, dependendo do seu modelo, acaba valorizando ainda mais no mercado. No entanto, a moto pode ser valorizada ou desvalorizada de acordo com o que foi feito nela e na demanda por um modelo clássico. “Uma BMW K1 vale menos do que uma Sete Galos, por exemplo, porque a Sete Galos é a mais procurada no mercado”.
Ramiro aconselha que, aqueles que desejam ter uma moto restaurada, se preparem e comprem uma moto cujo processo de restauração seja possível. “Não dá pra comprar uma moto abandonada há 10 anos e querer restaurar, é mais complicado. É preciso saber o que você está comprando e ter um histórico dela”. Ademais, se preparar financeiramente para os gastos não previstos é fundamental, já que pode haver gastos extras com as peças – que também são valorizadas.
Por fim, Ramiro recomenda que os proprietários de uma moto restaurada usem a moto, especialmente se ela tiver um carburador, já que essa peça precisa ser ‘estimulada’. “Mesmo que você não rode com a moto, deixe ela ligada por um tempo e claro, faça a manutenção preventiva uma vez a cada seis meses”.
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